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José Pacheco   Wed Jun 09, 2010 4:11 pm GMT
A Chegada de Lampião no Inferno

José Pacheco da Rocha

Um cabra de Lampião,
Por nome Pilão-Deitado,
Que morreu numa trincheira
Um certo tempo passado,
Agora pelo sertão
Anda correndo visão,
Fazendo mal assombrado.

E foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar.
O inferno, nesse dia,
Faltou pouco pra virar -
Incendiou-se o mercado,
Morreu tanto cão queimado,
Que faz pena até contar!

Morreu a mãe de Canguinha,
O pai de Forrobodó,
Cem netos de Parafuso,
Um cão chamado Cotó.
Escapuliu Boca-Insossa
E uma moleca moça
Quase queimava o totó.

Morreram cem negros velhos
Que não trabalhavam mais,
Um cão chamado Traz-Cá,
Vira-Volta e Capataz,
Tromba-Suja e Bigodeira,
Um cão chamado Goteira,
Cunhado de Satanás.

Vamos tratar na chegada,
Quando Lampião bateu.
Um moleque ainda moço
No portão apareceu:
-Quem é você, cavalheiro?
-Moleque, sou cangaceiro!
Lampião lhe respondeu.

-Moleque, não! Sou vigia!
E não sou seu parceiro -
E você aqui não entra,
Sem dizer quem é primeiro!
-Moleque, abra o portão!
Saiba que sou Lampião,
Assombro do mundo inteiro!

Então, esse tal vigia,
Que trabalha no portão,
Dá pisa que voa cinza,
Não procura distinção!
O negro escreveu não leu,
A macaíba comeu -
Ali não se usa perdão!

O vigia disse assim:
-Fique fora, que eu entro.
Vou conversar com o chefe,
No gabinete do centro -
Por certo ele não lhe quer,
Mas, conforme o que disser,
Eu levo o senhor pra dentro.

Lampião disse: - Vá logo,
Quem conversa perde hora -
Vá depressa e volte logo,
Eu quero pouca demora!
Se não me derem o ingresso,
Eu viro tudo do avesso,
Toco fogo e vou embora!

O vigia foi e disse
A Satanás, no salão:
-Saiba Vossa Senhoria
Que aí chegou Lampião,
Dizendo que quer entrar -
E eu vim lhe perguntar
Se dou-lhe o ingresso, ou não.

-Não senhor! Satanás disse.
Vá dizer que vá embora!
Só me chega gente ruim,
Eu ando muito caipora -
Eu já estou com vontade
De botar mais da metade
Dos que tenho aqui por fora!

Lampião é um bandido,
Ladrão da honestidade:
Só vem desmoralizar
A nossa propriedade -
E eu não vou procurar
Sarna para me coçar,
Sem haver necessidade!

Disse o vigia: - Patrão
A coisa vai se arruinar!
Eu sei que ele se dana,
Quando não puder entrar!
Satanás disse: - Isto é nada!
Convide aí a negrada
E leve os que precisar!

Leve cem dúzias de negros,
Entre homem e mulher;
Vá na loja de ferragem,
Tire as armas que quiser.
é bom avisar também
Pra vir os negros que tem,
Mais compadre Lucifer!

E reuniu-se a negrada:
Primeiro chegou Fuchico,
Com um bacamarte velho,
Gritando por Cão-de-Bico
Que trouxe o pau da prensa
E fosse chamar Tangença
Em casa de Maçarico.

E depois chegou Cambota
Endireitando o boné,
Formigueira e Trupezupé,
E o crioulo-Queté.
Chegou Bagé e Pecaia,
Rabisca e Cordão-de-Saia,
E foram chamar Banzé.

Veio uma diaba moça,
Com a calçola de meia.
Puxou a vara da cerca,
Dizendo: - A coisa está feia -
Hoje o negócio se dana!
E gritou: - Eta, baiana!
Agora o tipo vadeia!

E saiu a tropa armada
Em direção do terreiro,
Com faca, pistola e facão,
Clavinote, granadeiro.
Uma negra também vinha
Com a trempe da cozinha
E o pau de bater tempero.

Quando Lampião deu fé
Da tropa negra encostada,
Disse: - Só na Abissínia!
Oh, tropa preta danada!
O chefe do batalhão
Gritou, de armas na mão:
-Toca-lhe fogo, negrada!

Nessa voz, ouviu-se os tiros,
Que só pipoca no caco.
Lampião pulava tanto,
Que parecia um macaco!
Tinha um negro nesse meio
Que durante o tiroteio,
Brigou tomando tabaco.

Acabou-se o tiroteio
Por falta de munição
Mas o cacete batia,
Negro enrolava no chão.
Pau e pedra que achavam,
Era o que as mão pegavam,
Sacudiam em Lampião.

-Chega traz um armamento!
Assim gritava o vigia.
Traz a pá de mexer doce!
Lasca os ganchos de caria!
Traz um bilro de macau!
Corre, vai buscar um pau,
Na cerca da padaria!

Lucifer com Satanás
Vieram olhar, do terraço,
Todos contra lampião,
De cacete, faca e braço.
O comandante, no grito,
Dizia: -Briga bonito,
Negrada! Chega-lhe o aço!

Lampião pode apanhar
Uma caveira de boi.
Sacudiu na testa dum,
Ele só fez dizer: - Oi!
Ainda correu dez braças
E caiu, segurando as calças -
Mas eu não sei por que foi!

Estava travada a luta,
Mais de uma hora fazia.
A poeira cobria tudo,
Negro embolava e gemia,
Porém Lampião ferido
Ainda não tinha sido,
Devido à grande energia.

Lampião pegou um seixo
E rebolou-o num cão,
Mas o que arrebentou ?
A vidraça do oitão -
Saiu um fogo azulado,
Incendiou o mercado
E o armazém de algodão.

Satanás, com esse incêndio,
Tocou no búzio, chamando.
Correram todos os negros
Que se achavam brigando.
Lampião pegou a olhar -
Não vendo com quem brigar,
Também foi se retirando.

Houve grande prejuízo
No inferno, nesse dia:
Queimou-se todo o dinheiro
Que Satanás possuía,
Queimou-se o livro de pontos,
Perdeu-se vinte mil contos,
Somente em mercadoria.

Reclamava Lucifer:
-Horror maior não precisa!
Os anos ruins de safra,
Agora mais esta pisa -
Se não houver bom inverno,
Tão cedo aqui, no inferno,
Ninguém compra uma camisa!

Leitores, vou terminar,
Tratando de lampião,
Muito embora que não possa
Vos dar a explicação -
No inferno não ficou,
No céu também não chegou:
Por certo está no sertão!

Quem duvidar desta história,
Pensar que não foi assim,
Quiser zombar do meu sério,
Não acreditando em mim -
Vá comprar papel moderno,
Escreva para o Inferno,

http://www.brazzil.com/p32sep02.htm
luar   Wed Jun 09, 2010 4:13 pm GMT
Nao, para nada. Prefiro o portugues luso. A meu ver é muito mais interessante fonetica e gramaticalmente.
Carlos Jatobá   Wed Jun 09, 2010 4:24 pm GMT
CANGAÇO E VOLANTES

O Cangaço foi um fenômeno do banditismo social brasileiro até a 4ª década do século passado e protagonizado, principalmente, pelo famigerado Lampião. As Volantes eram forças policiais de ações tático-móveis usadas no combate a esse mesmo banditismo e liderada, dentre outros, pelo famoso Tenente Bezerra.

Uma notícia—talvez estranha, quiçá pitoresca aos habitantes da corte republicana, ainda consternada pelo assassinato do célebre escritor e jornalista Euclides da Cunha no dia anterior—era publicada na primeira página da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro (então Capital Federal), no longínquo 16 de agosto de 1909:

"Aracaju-SE.—A importante cidade de Propriá, sede da comarca do mesmo nome, foi ontem invadida repentinamente por um numeroso grupo de cangaceiros que infestam a zona norte deste Estado, que escolheram para campo de rapinagens e depredações. Foi imenso o pânico da população da laboriosa cidade. Logo que foi dado o alarma, a autoridade policial tomou as providências para resistir à invasão, reunindo todos os recursos de que dispunha, e se propôs a capturar os cangaceiros que resistiram, travando-se renhido combate, de que resultaram vários feridos e uma morte. Foi ferido gravemente um soldado da polícia, tendo sido morto um cangaceiro. A ordem foi, felizmente, restabelecida, achando-se a população satisfeita com as medidas de repressão da autoridade policial. Ao que consta, o governo do Estado está preparando uma nova força para ir em perseguição dos cangaceiros."

O CANGAÇO

Nas sociedades rurais subdesenvolvidas, segundo Chandler, "o banditismo sempre captou o interesse e a fantasia do povo. Na verdade, o fascínio que estes bandidos exercem e a criação de lendas sobre eles—sem mencionar o fenômeno do próprio banditismo—parecem ter sido universalmente difundidos. O homem, ou ocasionalmente a mulher, que vive fora da lei como um celerado errante, aparentemente livre de qualquer restrição da sociedade, desperta uma fibra de nossa imaginação, principalmente quanto mais remotas forem suas colocações no tempo ou no espaço. Deste modo, os ingleses vibram com os feitos de Robin Hood e seu alegre bando; os americanos contam as aventuras de Jesse James; os mexicanos, as façanhas de Pancho Villa, e os brasileiros, as de Lampião."

http://www.brazzil.com/p32sep02.htm


The cangaço was a Brazilian phenomenon of social-banditry until the 1940s. Lampião was Brazil's most famous cangaceiro ever. Volantes were a tactical and itinerant police force that combated the banditry led by, among others, the famous Lieutenant Bezerra.

A notice—perhaps stranger or uncommon to the inhabitants of the Capital, still sorrowful for the murder of great writer and journalist Euclides da Cunha in the previous day—was published on the front page of the newspaper Gazeta de Notícias from Rio de Janeiro (formerly Brazil's Capital), in August 16, 1909:

"Aracaju, State of Sergipe - The important city of Propriá, the judicial district headquarters of the same name, was invaded yesterday suddenly by a large group of rural bandits (cangaceiros) that occupy the northern region of this state, which they chose for robberies and depredations.

The local residents of the working city panicked and the police responded to alarms and took steps to resist the invasion, collecting all of the resources at hand, and capturing the cangaceiros that had resisted, stopping disputed combat. Some policemen were wounded and one cangaceiro died.

Fortunately order was reestablished and people were satisfied with the measures to repress the invasion taken by the police. For this reason, the government of the State is preparing a new force to go in persecution of the cangaceiros."

The Cangaço

Cangaço, or rural banditry, was a phenomenon of the first four decades of the 20th century in rural areas (sertão) of Brazil. According to Billy Chandler, it happened as a result of an underdeveloped agricultural society. Chandler also remarks in The Bandit King: Lampião of Brazil that "banditry always sparked the interest of the people. In truth, the allure of these outlaws and their legend —without talking about banditry—were universal. The male, or occasionally the female, outlaw as a nomadic bandit is apparently exempt of any societal restriction and that awakes a fiber of our imagination, mainly those ranked more remote in time or space. In this way, English people gravitate towards the facts of Robin Hood and his gang; Americans tell the adventures of Jesse James; Mexicans talk about Pancho Villa; and Brazilians recount stories of Lampião."
Val   Wed Jun 09, 2010 4:27 pm GMT
Me gusta el portuges de Portugal! el brasileiro es chocante!
Semira Adler Vainsencher   Wed Jun 09, 2010 4:54 pm GMT
CORISCO (Cristiano Gomes da Silva Cleto)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Filho de Manuel Gomes da Silva e de Firmina Cleto, Cristino Gomes da Silva Cleto - conhecido depois como Corisco - nasceu em 1907, na localidade de Matinha de Água Branca, no Estado de Alagoas. Com o passar dos anos, ficou belo como um galã de cinema: possuía boa estatura, ombros largos, pele alva e cabelos louros e longos. Além desses atributos, ele era dotado de grande força física e de uma coragem extraordinária. Em agosto de 1926, entrou para o bando de Lampião, recebendo o apelido de Diabo Louro.

Corisco seqüestrou Sérgia Ribeiro da Silva - cujo apelido era Dadá - quando ela tinha, apenas, treze anos de idade. À força, colocou-a na sela do seu cavalo e fugiu pela caatinga. Dadá era morena, tinha cabelos pretos e 1,70 m de altura. Quando foi desvirginada brutalmente pelo Diabo Louro, a adolescente sofreu uma hemorragia tão intensa que quase morreu. Com o passar do tempo, porém, Corisco se tornou mais delicado, e o ódio sentido por ela se transformou, primeiro, em simpatia e, depois, em imenso amor.

Da mesma forma que a treinou para o uso de diversos armamentos, Corisco ensinou Dadá a ler, a escrever e a contar. Por sua grande coragem, ela era tão admirada pelos bandidos que certos chefes de bandos ressaltavam: Dadá vale mais do que muito cangaceiro! Com o Diabo Louro, ela teve sete filhos, mas apenas três deles conseguiram sobreviver.

http://semiraadlervainsencher.blogspot.com/2009/05/corisco.html
Semira Adler Vainsencher   Wed Jun 09, 2010 4:58 pm GMT
MARIA BONITA

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 8 de março de 1911, na fazenda Malhada do Caiçara, próximo à localidade Santa Brígida, no Estado da Bahia. Os familiares chamavam-na de Maria Déia. Seus pais, moradores de Jeremoabo, eram os fazendeiros Maria Joaquina da Conceição e José Gomes de Oliveira.

Aos 15 anos, Maria Déia se casava com o sapateiro José Miguel da Silva, apelidado Zé do Neném. O casal permaneceria junto durante cinco anos, mas, como José era estéril, eles não tiveram filhos. As brigas entre os dois eram muito freqüentes e, a cada desavença, Maria costumava se mudar para a fazenda Malhada do Caiçara, que ficava próxima à Cachoeira de Paulo Afonso, de propriedade dos seus pais.

Por aquela fazenda passou Virgulino Ferreira da Silva, o famoso e temido Lampião. Uns dizem que, sem nunca tê-lo visto, Maria Déia já nutria um grande amor platônico pelo cangaceiro. Outros afirmam que a mãe dela segredara, ao próprio Lampião, a existência daquela paixão. E, há quem jure, que foi Luís Pedro - um dos integrantes do bando - quem insistiu para o rei do cangaço conhecê-la.

Independentemente de como tenha sido, realmente, aquela troca de energias, fato é que a atração entre eles foi imediata e recíproca: o cangaceiro caiu de amores por Maria Déia e vice-versa. Impressionado por sua beleza, passou a chamá-la de Maria Bonita. E, ao invés de ficar três dias na fazenda, como era de praxe, permaneceu dez, vivenciando com a esposa de Zé do Neném um tórrido romance.

Ao cabo dos dez dias, sem medir riscos e dificuldades, Maria Bonita colocou suas roupas em dois bornais, despediu-se do marido para sempre, abraçou os familiares, e partiu com Lampião rumo à caatinga. Foi a primeira mulher a se inserir oficialmente no bando, abrindo um precedente até então inabalável. Os demais cangaceiros respeitavam-na muito, referindo-se a ela como Dona Maria, Maria de Lampião ou Maria do Capitão. Era o ano 1931 e Maria Bonita tinha 20 anos.

http://semiraadlervainsencher.blogspot.com/2009/05/maria-bonita.html
Perseu Abramo   Wed Jun 09, 2010 5:10 pm GMT
Pra Não Dizer Que Não Lembrei Das Flores

Cultura, palavra originada do verbo cultivar, um legado que o homem traz consigo desde os tempos imemoriáveis, o legado que o permitiu evoluir, o de poder enfim sentar raízes e abandonar o nomadismo. A necessidade da semeadura permitiu ao homem inventar a roda, a observar os astros e perceber que a natureza abundante à sua volta poderia ser dominada.

Chico Buarque para fugir da censura chegou a assinar composições com a alcunha de Julinho da Adelaide. Os jornalistas do Jornal do Brasil tentando avisar aos seus leitores sobre o que estava acontecendo no país depois do dia 13 de dezembro de 1968 (promulgação do AI-5) publicaram na parte referente à previsão do tempo que o tempo estava sufocante e o ar irrespirável. Os asfalto se juntava com o morro e todos cantavam que podiam bater, mas que não mudariam de opinião. Era o Show Opinião, estreando meses após o golpe e que impulsionou as carreiras de Zé Kétti, João do Vale, Carlos Lyra, Nara Leão, Maria Bethânia e Caetano Veloso.

Nos Festivais Internacionais da Canção (FIC) nomes novos surgiram como Elis Regina, Chico Buarque, Geraldo Vandré e Ronaldo Bôscoli. O público, pela urgência da época, vaiou a belíssima música de Chico e Tom, 'Sabiá', pela politizada 'Prá não dizer que não falei das flores' de Geraldo Vandré. Foram 10 anos de festivais, até terem sido extintos pelo governo, afinal não podiam ceder aquele espaço em cadeia nacional de televisão e rádio à um grupo disposto a tudo pela busca da liberdade.

No plano teatral muita perseguição foi feita.

Teatros foram fechados arbitrariamente, atores foram detidos, com alguns chegando ao enfrentamento como foi o caso no espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque, em que um grupo invadiu o teatro onde se realizava a peça, espancou os atores e espectadores e fugiu. Censores nos jornais, a desconfiança crescia entre os setores da sociedade, não se podia mais confiar em ninguém. As listas negras compunham o ambiente de trabalho.

Vamos às flores!

http://www.tvebrasil.com.br/paranaodizer/principal.htm
http://www.tvebrasil.com.br/paranaodizer/txt_tea_deckes.htm
Leitor da Exame   Wed Jun 09, 2010 5:18 pm GMT
O preço da baixa qualidade do ensino.

Revista EXAME, 29.09.2006

Em plena era do conhecimento, a baixa qualidade do ensino tornou-se uma ameaça à competitividade das empresas e uma trava ao crescimento do país

Ao longo dos últimos anos, os melhores cérebros do país têm buscado compreender as razões que levaram o Brasil, no passado apontado como uma nação fadada ao sucesso, a transformar-se numa espécie de lanterninha na corrida global pela prosperidade. Um grupo de pesquisadores do Banco Mundial acaba de fornecer uma peça-chave para decifrar parte da questão. O banco concluiu um alentado estudo, ao qual EXAME teve acesso, sobre as condições dos principais países emergentes para inserir-se na sociedade do conhecimento, considerada o estágio mais avançado do capitalismo. O resultado não poderia ser mais revelador. O sistema de ensino brasileiro levou uma surra -- foi o pior colocado em toda a amostra analisada, que inclui China, Índia, México e Rússia, entre outros. A constatação diz respeito diretamente às chances que o país tem de virar o jogo na competição internacional, na qual vem cedendo espaço sistematicamente. "Há muito tempo, sabemos que as deficiências do Brasil na educação afetam a distribuição de renda e o crescimento pessoal dos indivíduos", diz Alberto Rodríguez, especialista em educação do Banco Mundial e coordenador do estudo. "Com a pesquisa, ficou claro que essas deficiências também provocam a perda de competitividade do país em relação a economias com as quais disputa o mercado global." Tradução: enquanto a educação brasileira não der um salto qualitativo, o país continuará patinando -- e comendo poeira dos rivais. "Não tenho a menor dúvida de que o baixo crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos está intimamente associado à baixa qualidade do ensino", diz o economista americano Edward Glaeser, professor da Universidade Harvard e estudioso dos efeitos da educação sobre o desenvolvimento das sociedades. "A educação é um dos motores do crescimento, e no Brasil esse motor funciona mal."

O fato, mostrou a pesquisa, é que o brasileiro aprende muito pouco na escola. Carrega por toda a vida uma herança pesada, materializada na forma de despreparo e ignorância -- e essa herança tende a ser repassada para a geração seguinte. Quando se analisam os dados sobre o desempenho brasileiro no terreno da educação, a primeira deficiência que salta aos olhos é o número de anos passados nos bancos escolares. O brasileiro estuda em média cinco anos, contra 11 do coreano, nove do argentino e dez da população da maioria dos países desenvolvidos. Estima-se que, se os brasileiros permanecessem na escola os 12 anos que ficam os americanos, a renda nacional seria mais que o dobro da atual. "A maioria dos brasileiros abandona a escola ainda na infância, especialmente por causa da repetência, que atinge uma taxa inacreditável de 21% dos alunos", diz Rodríguez, do Banco Mundial. Levantamentos mostram que, a cada hora, 31 estudantes brasileiros desistem de estudar. Nos anos 90, foi feito um esforço para manter as crianças na escola e ocorreram avanços, mas em ritmo aquém do necessário. Segundo estudo da Unesco, mantido o passo atual, o Brasil demorará mais de 30 anos para alcançar o nível educacional que as maiores economias têm hoje. É uma realidade assustadora no momento em que o mundo demanda gente cada vez mais capacitada e que economias como a chinesa ou a indiana -- concorrentes diretas do Brasil -- fazem um esforço hercúleo para educar e preparar parte de sua população para o mercado global. "O emprego do século 21 requer habilidades mentais", diz Célio da Cunha, representante da Unesco no Brasil para a área de educação. "Exige raciocínio rápido, capacidade de interpretação e de análise da informação. Atributos que só são adquiridos com ensino de qualidade."

Ainda que o país passe a reter os jovens por mais tempo nas salas de aula, teria pela frente um desafio que, à primeira vista, pode parecer elementar: garantir que os alunos efetivamente aprendam e fazer com que esse aprendizado vire riqueza. Atualmente, a maioria das crianças das escolas públicas se transforma em profissionais medíocres. Em 2003, o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico identificou que 55% dos alunos matriculados na 4o série do ensino fundamental eram praticamente analfabetos e mal sabiam calcular. Na 8a série, menos de 10% dos estudantes haviam adquirido competência para elaborar textos mais complexos. Como conseqüência, cerca de 75% dos adultos têm alguma deficiência para escrever, ler e fazer contas, o que acarreta um efeito devas tador sobre sua capacidade de se expressar. "O que está acontecendo nas nossas escolas é estarrecedor", diz Paulo Cunha, presidente do grupo Ultra. Para conhecer a real situação da educação brasileira, Cunha visitou escolas municipais na capital paulista. "As crianças ficam oito anos nas salas de aulas e saem tão ignorantes quanto entraram. Como elas vão disputar um lugar no mercado de trabalho?"

Não se pode ignorar a revolução educacional pela qual o Brasil passou nos últimos anos. Até poucas décadas, vivíamos num país de analfabetos, no qual educação era luxo. Hoje há mais de 40 milhões de crianças na escola. Cerca de 5 milhões delas entram no sistema todo ano. O feito, porém, é insuficiente para sustentar o crescimento numa economia globalizada, cada vez mais dependente de conhecimento e de inovação e na qual os parâmetros de comparação ignoram fronteiras. No jogo da competitividade mundial -- um jogo que define o sucesso das empresas e do próprio país --, a má qualidade do ensino e sua incapacidade de entregar ao mercado os profissionais que ele demanda transforma-se num veneno mortal. Isso fica evidente na dificuldade que empresas de quase todos os setores vivem para recrutar em larga escala seu bem mais precioso -- capital humano de boa qualidade. Esse é exatamente um dos grandes desafios das economias que perseguem o crescimento sustentável: garantir o suprimento de massas de pessoas qualificadas.
Leitor de Brazzil   Wed Jun 09, 2010 5:58 pm GMT
Cangaço continues to awake wild passions. Popular songbooks and literature are uninhibited from creating stories about cangaço. Carlézio Medeiros tells us in his fictional work that in spite of being an old and dying cangaceiro under imminent attack, "many cried and asked friends and leaders to stay until the last moment when they died. The destiny of a cangaceiro was to die fighting in a hail of bullets or daggers of the macacos (monkeys) of the government and not to run away as a caga nas calças qualquer (some pantshitter) because of danger."

According to Paulo Britto (Lieutenant Bezerra's son), a closer look at the subject allows a "glimpse at northeastern Brazilian history. It is necessary to clarify the different roles focusing on the aspects of a multi-faceted phenomenon: cangaceirismo. (...) The complexity of its characteristics: originality, values, codes, behaviors, attitudes, strategies, plans, the economic situation and social politics of the time. It was also a phenomenon that frightened the cities of the region, marked by fear, panic, terror and violence."

http://www.brazzil.com/p32sep02.htm
Americano   Wed Jun 09, 2010 6:12 pm GMT
Gosto muito do Português do Brasil seu sotaque e sua música, mas nunca tive ouvido o português de Portugal, mas prefiro o português do brasil porque faz fronteira com o meu país...
Rio   Wed Jun 09, 2010 7:05 pm GMT
Portuges do Brasil é um croile que me soa muito feio.

Passem bem.
JOHN   Wed Jun 09, 2010 7:41 pm GMT
Modern linguistics studies normally suggest that spoken Brazilian Portuguese and European Portuguese are deeply distinct when grammar is considered. In fact, spoken BP has deeply different syntatical system from EP, as discussed by Charlotte Galves, 2001. One of the most dramatical differences is that BP shows strong traits of topic-proeminent language whereas EP is a subject-proeminent language, as presented by Eunice Pontes, 1987. Moreover it's not a pro-drop language as EP and its pronoun system is quite different, having abolished most of the oblique pronouns.

Some authors (such as Mário Perini, 1997) tend to suggest the existence two separate languages - vernacular Brazilian versus European Portuguese. Standard written BP is a little closer to EP than to vernacular Brazilian, hiding most of the differences for a casual observer and thus suggesting a somewhat artificial unity.

I'm sure that it's not Antimoon's job to raise polemics, but present the most accepted positions. Nevertheless, it would be a little more factual to present BP and EP as two different systems, with some distance in their grammatical systems, as it's widely recognized in academy.
SOLANGE BRITTO   Wed Jun 09, 2010 7:44 pm GMT
A diferença gramatical PE/PB

Galves (1998), baseada na distinção Lí­ngua-Externa (Lí­ngua-E) / Lí­ngua-Interna (Lí­ngua-I) operada por Chomsky (1985), afirma que do ponto de vista da Lí­ngua-I, ou seja, da gramática, o PE e o PB são duas lí­nguas diferentes.
De acordo com Chomsky (1985) a Lí­ngua-E í© definida como "a totalidade dos enunciados que podem ser produzidos numa comunidade de fala"; já a Lí­ngua-I í© um objeto mental, o saber que as pessoas tem da lí­ngua e que lhes permite falar e entender essa lí­ngua.

A afirmação feita por Galves (1998) í© corroborada por ocorríªncias peculiares na sintaxe de PB que, se presentes em PE, produziriam enunciados agramaticais nesta variedade. Ou, em alguns casos, apesar de os enunciados serem superficialmente comuns í s duas variantes, não recebem a mesma interpretação. A autora aponta as seguintes ocorríªncias gramaticais próprias de PB:

1. A gramática brasileira substitui o clí­tico acusativo de terceira pessoa pelo pronome tí´nico, e por uma categoria vazia de natureza pronominal. Ex.1: Vi ele ontem na rua. Ex.2: (falando dos pastí©is) O rapaz que trouxe da pastelaria era o teu afilhado.[11]

2. A gramática brasileira limita a posição dos clí­ticos í adjacíªncia do verbo temático. Ex.: Agora não tinha me lembrado.[12]

3. A gramática brasileira produz um sujeito nulo de interpretação indeterminada, que requer certos contextos para receber uma interpretação referencial especí­fica, contrariamente ao PE ou a outras lí­nguas de sujeito nulo. Ex.: (referindo-se a pessoa indeterminada) Não usa mais freio.[13]

4. A gramática brasileira produz estruturas em que um objeto assume função de sujeito sem que nenhuma marca morfológica seja necessária para legitimar essa mudança. Ex.: A balança está consertando
Franco   Wed Jun 09, 2010 7:49 pm GMT
Both Brazilian and Portuguese are peasant languages.
SOLANGE BRITTO   Wed Jun 09, 2010 7:52 pm GMT
Siscreve como sifala

http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT142714-17773,00.html

* Você fala de uma língua brasileira. Ela já é totalmente diferente do português falado em Portugal?

Ataliba: O português de Portugal se afastou do português brasileiro. Provavelmente, em 200 anos portugueses e brasileiros já não vão se entender. Há diferenças verbais, morfológicas e sintáticas. E eu tenho convicção de que o futuro do português está aqui. Afinal, há mais gente que fala a língua no Brasil do que em Portugal.